terça-feira, 6 de abril de 2010

Artigo de Opinião: A difícil situação do trânsito em Brasília

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O problema do trânsito em Brasília já adquiriu proporções similares às de cidades como São Paulo e Rio de Janeiro. As causas para os infindáveis engarrafamentos que surgem nos horários de pico são muitas e têm origem tanto nas atitudes dos próprios motoristas, quanto nas ações ou omissões de órgãos responsáveis pela engenharia das vias e pela fiscalização do trânsito.

Quanto aos motoristas, o que se percebe são atitudes que refletem imprudência e imperícia além da falta de ética no trânsito. As escolas preparatórias para a obtenção da CNH preocupam-se mais em garantir que os alunos sejam aprovados nas provas oficiais do que em proporcionar-lhes o desenvolvimento de uma conduta ética e prudente ao volante. Mudanças na legislação referente às Auto-Escolas, que obrigassem o estudo mais detalhado da direção defensiva, por exemplo, poderiam melhorar

A incompetência dos motoristas não é o único fator que contribui para os engarrafamentos. A engenharia das vias ocupa lugar central nessa problemática. A impressão que se tem ao percorrer as vias do centro de Brasília é que elas foram planejadas para a circulação de um número de carros infinitamente inferior ao que se constata atualmente. Brasília, que já ocupava a posição de centro político, já se tornou um centro econômico e cada vez mais tem adquirido status de centro acadêmico e cultural. Por ser a capital do país, Brasília concentra um grande número de órgãos públicos e, consequentemente, uma multidão de funcionários públicos se desloca todos os dias para cá. Há também os trabalhadores das empresas privadas, de shopping centers, entre outros. Muitos deles decidem dar continuidade aos seus estudos em faculdades próximas ao local de trabalho, justamente para evitar o trânsito pesado do retorno à cidade satélite. Como não voltam para casa durante o dia, é aqui que se alimentam, fazem compras e se divertem. O número de pessoas que seguem essa rotina só tende a aumentar, e na mesma proporção aumentarão os engarrafamentos se as vias continuarem as mesmas.

As autoridades públicas também têm sua parcela de responsabilidade, pois as mudanças na engenharia e na fiscalização do trânsito dependem de atos oficiais. Parece importante ressaltar que Brasília tem assistido a uma verdadeira maratona de obras nos últimos três ou quatro anos. Como nunca antes, as autoridades voltaram suas atenções para o estado crítico em que se encontra o trânsito em todo o Estado. Não vem ao caso discutir as motivações para essa mudança de atitude. O que interessa é que mudanças estão sendo empreendidas e que elas têm afetado o trânsito, inicialmente, de forma negativa, pois várias faixas têm sido interditadas para dar continuidade às obras, como é o caso da EPTG e da EPNB. Parece que o que se pode fazer é aguardar o término dessa “estação de obras” para ver se alguma melhoria acontecerá.

O problema da engenharia de trânsito passa por outras áreas além da criação e ampliação de vias: há também a questão dos pardais, das barreiras eletrônicas, das faixas de pedestres e dos semáforos. Quanto a estes, o que parece é que muitas vezes não há um estudo sistemático das vias antes da instalação dos equipamentos e do posicionamento das faixas, ou quando há, este se dá de forma superficial e sem uma preocupação com os desdobramentos que a interrupção do movimento dos carros acarretará no trânsito, principalmente quanto aos semáforos que em sua maioria são os mesmos de vinte ou trinta anos atrás. Já é hora de se considerar o trânsito do Distrito Federal como um “organismo” estruturado, cujo bom funcionamento como um todo dependerá de medidas interligadas e não de pequenas adaptações isoladas.

Por Lorena Brandizzi

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